Em 16 de agosto de 2000, concluí minha segunda leitura de Watchmen. Na data em questão, a obra (julgo eu, definitiva) de Alan Moore fazia seu primeiro aniversário no meu acervo, visto que fora em agosto de 1999 que adquiri o último fascículo (o décimo segundo de doze) daquela primeira e ótima republicação da Editora Abril que, diga-se de passagem, surpreendeu* a todos ao lançá-la exatamente como no original, com as devidas ilustrações de capa e os respectivos apêndices.
Doravante, é uma das poucas senão a única série em quadrinhos que o formato fragmentado acaba valorizando o resultado final do título – quem a tem sabe do que estou falando. O que não quer dizer que ignorarei a premiada** e recente versão compilada (Absolute) que com certeza deve desembarcar por aqui em 2009, no vácuo da adaptação de Zack Snyder para os cinemas.
Falando nela, quem diria, a prévia disponibilizada há alguns dias foi o empurrão que precisava para dar início à tão adiada terceira leitura. O longo hiato entre uma e outra seria ideal, aparentemente conferiria tons de ineditismo, reservando-me menos intensidade ao feito e, por conseguinte maior imparcialidade se porventura viesse a analisá-la.
Pra ser franco, a quem quero enganar? Por volta da edição #04 minha auto-imposta indiferença desabou como um castelo de cartas. É impossível a um homo sapiens (que não o próprio autor) destilar mais que 40% do teor conceitual de Watchmen. A tarefa é das mais árduas não porque exista de fato tanta complexidade na trama, ela existe, mas diluída num factível palpável, acessível, o que divide as opiniões são as inserções paradigmáticas nas subtramas e as duas ou três desconstruções do gênero super-herói a cada capítulo.
* Se há algo a se elogiar na longeva e malfadada passagem da mesma nos quadrinhos, então que se registre em ata o presente feito. Principalmente se levarmos em consideração a regularidade da foice do editor-chefe sênior no período. Um tal de “Figa”, já ouviu falar?
** Vinte anos depois emplacou ainda alguns louros na categoria melhor projeto/coleção arquivo de séries no Eisner Awards 2006.
Voltando a #04, por exemplo, é nela que Jon Osterman se exila em Marte e refaz todos os passos desde o incidente da remoção do campo intrínseco no bloco de concreto nº. 15 até a humilhação pública ao ser inquirido sobre as três pessoas próximas que estariam agora cancerosas por culpa sua. Mais que a origem secreta do Dr. Manhattan, ‘Relojoeiro’ é o supra-sumo da narrativa em flashback, recurso este que conhecemos de maneira inusitada, ou seja, acompanhando os desdobramentos da “crono-consciência” (ou onisciência em sentido amplo).
Não se trata de passado, futuro ou presente, o tempo e as situações apenas co-existem em algum lugar no tecido da realidade, algum lugar em que ele é capaz de ver tudo.
Seria um traço perigoso, passível de furos que em curto prazo desestabilizariam a fluidez do roteiro propriamente dito. Contudo, Moore tem (desde sempre) proficiência em escrever certo por linhas tortas, tanto que na #09, a resolução desse mérito se encerra de modo tão intricado quanto à proposição original: “Eu apenas sou uma marionete que vê as cordas”.
Outro ponto que não é nenhuma novidade, mas só pude aprofundá-lo a partir desta oportunidade, é a paridade entre alguns personagens da DC Comics egressos da (extinta) Charlton Comics, como Dan Garrett/Ted Kord (Besouro Azul I e II) ↔ Hollis Mason/Dan Dreiberg (Coruja I e II), Christopher Smith (Pacificador) ↔ Edward Blake* (Comediante), Allen Adam (Capitão Átomo I) ↔ Jon Osterman (Dr. Manhattan), Vic Sage (Questão) ↔ Walter Kovacs** (Rorschach), Peter Cannon (Thunderbolt) ↔ Adrian Veidt (Ozymandias) e há quem diga que Eve Eden (Nightshade) foi a inspiração para Sally Jupiter/Laurie Juspeczyk (Espectral I e II), mas só porque era sua(s) contraparte(s) naquele universo, quando em verdade ambas são réplicas de Dinah Drake Lance/Dinah Laurel Lance (Canário Negro I e II), principalmente se levarmos em consideração o parentesco das duas (mãe e filha).
Não é mera coincidência, no projeto original os presentes personagens (da Charlton) estavam mesmo escalados para compor o cast de Watchmen, só não o foram porque a DC temia as alterações drásticas propostas na minissérie, visto que acabava de introduzi-los na continuidade e não queria correr o risco de perdê-los numa história menor.
Pergunto-me, será que alguém saiu perdendo nisso tudo? Se por um lado os super-heróis da Charlton Comics seguiram por um vale escuro como a própria morte, os de Moore foram guiados no caminho certo, eternizados, repousando nas campinas verdejantes e águas tranqüilas de Imáteria.
E reside aí o grande problema que Moore tem pela frente, o dilema de Promethea, ou seja, às vezes se uma história for muito especial, ela pode conquistar as pessoas, e como cada cabeça é um mundo, cada um a interpreta como melhor lhe aprouver. É bem verdade que todas as traduções de sua obra para a sétima arte foram longe demais nas licenças poéticas, contudo Zack Snyder tem se mostrado uma ovelha desgarrada daquele rebanho de infiéis e merece pelo menos o benefício da dúvida até 06 de março de 2009.
* Corrijam-me se entendi errado, mas quer dizer que a concepção de Laurie foi providenciada não na ocasião do suposto estupro de Sally, e sim num segundo e (dessa vez) espontâneo encontro com o Ed? É isso?
** O paralelo mais interessante que se fez sobre esses dois definitivamente foi o registrado em Justice League Unlimited, no episódio ‘Fearful Symmetry’. Marcado pelo debute de Vic na série, o título do mesmo além de ser idêntico ao do quinto tomo de Watchmen, ‘Temível Simetria’, dá início a uma série de investigações que resultaram em implicações análogas às de Rorschach, inclusive rendendo ao próprio uma temporada encarcerado, só que no lugar de Sing Sing entra o Cadmus.
Para comemorar os seus 3 anos o SEMPRE EXTRAORDINÁRIO the pulse, esta fazendo um sorteio de Reino do Amanhã (encadernada) de Mark Waid & Alex Ross (Editora Abril) entre todos que comentaram (e comentarem)neste post até o final do mês.
Portanto, está dado o recado, é só esculachar este que vos fala nos comentários até o próximo dia 31 que estarás automaticamente participando.
Escrito por LUWIG
Doravante, é uma das poucas senão a única série em quadrinhos que o formato fragmentado acaba valorizando o resultado final do título – quem a tem sabe do que estou falando. O que não quer dizer que ignorarei a premiada** e recente versão compilada (Absolute) que com certeza deve desembarcar por aqui em 2009, no vácuo da adaptação de Zack Snyder para os cinemas.
Falando nela, quem diria, a prévia disponibilizada há alguns dias foi o empurrão que precisava para dar início à tão adiada terceira leitura. O longo hiato entre uma e outra seria ideal, aparentemente conferiria tons de ineditismo, reservando-me menos intensidade ao feito e, por conseguinte maior imparcialidade se porventura viesse a analisá-la.
Pra ser franco, a quem quero enganar? Por volta da edição #04 minha auto-imposta indiferença desabou como um castelo de cartas. É impossível a um homo sapiens (que não o próprio autor) destilar mais que 40% do teor conceitual de Watchmen. A tarefa é das mais árduas não porque exista de fato tanta complexidade na trama, ela existe, mas diluída num factível palpável, acessível, o que divide as opiniões são as inserções paradigmáticas nas subtramas e as duas ou três desconstruções do gênero super-herói a cada capítulo.
* Se há algo a se elogiar na longeva e malfadada passagem da mesma nos quadrinhos, então que se registre em ata o presente feito. Principalmente se levarmos em consideração a regularidade da foice do editor-chefe sênior no período. Um tal de “Figa”, já ouviu falar?
** Vinte anos depois emplacou ainda alguns louros na categoria melhor projeto/coleção arquivo de séries no Eisner Awards 2006.
Voltando a #04, por exemplo, é nela que Jon Osterman se exila em Marte e refaz todos os passos desde o incidente da remoção do campo intrínseco no bloco de concreto nº. 15 até a humilhação pública ao ser inquirido sobre as três pessoas próximas que estariam agora cancerosas por culpa sua. Mais que a origem secreta do Dr. Manhattan, ‘Relojoeiro’ é o supra-sumo da narrativa em flashback, recurso este que conhecemos de maneira inusitada, ou seja, acompanhando os desdobramentos da “crono-consciência” (ou onisciência em sentido amplo).
Não se trata de passado, futuro ou presente, o tempo e as situações apenas co-existem em algum lugar no tecido da realidade, algum lugar em que ele é capaz de ver tudo.
Seria um traço perigoso, passível de furos que em curto prazo desestabilizariam a fluidez do roteiro propriamente dito. Contudo, Moore tem (desde sempre) proficiência em escrever certo por linhas tortas, tanto que na #09, a resolução desse mérito se encerra de modo tão intricado quanto à proposição original: “Eu apenas sou uma marionete que vê as cordas”.
Outro ponto que não é nenhuma novidade, mas só pude aprofundá-lo a partir desta oportunidade, é a paridade entre alguns personagens da DC Comics egressos da (extinta) Charlton Comics, como Dan Garrett/Ted Kord (Besouro Azul I e II) ↔ Hollis Mason/Dan Dreiberg (Coruja I e II), Christopher Smith (Pacificador) ↔ Edward Blake* (Comediante), Allen Adam (Capitão Átomo I) ↔ Jon Osterman (Dr. Manhattan), Vic Sage (Questão) ↔ Walter Kovacs** (Rorschach), Peter Cannon (Thunderbolt) ↔ Adrian Veidt (Ozymandias) e há quem diga que Eve Eden (Nightshade) foi a inspiração para Sally Jupiter/Laurie Juspeczyk (Espectral I e II), mas só porque era sua(s) contraparte(s) naquele universo, quando em verdade ambas são réplicas de Dinah Drake Lance/Dinah Laurel Lance (Canário Negro I e II), principalmente se levarmos em consideração o parentesco das duas (mãe e filha).
Não é mera coincidência, no projeto original os presentes personagens (da Charlton) estavam mesmo escalados para compor o cast de Watchmen, só não o foram porque a DC temia as alterações drásticas propostas na minissérie, visto que acabava de introduzi-los na continuidade e não queria correr o risco de perdê-los numa história menor.
Pergunto-me, será que alguém saiu perdendo nisso tudo? Se por um lado os super-heróis da Charlton Comics seguiram por um vale escuro como a própria morte, os de Moore foram guiados no caminho certo, eternizados, repousando nas campinas verdejantes e águas tranqüilas de Imáteria.
E reside aí o grande problema que Moore tem pela frente, o dilema de Promethea, ou seja, às vezes se uma história for muito especial, ela pode conquistar as pessoas, e como cada cabeça é um mundo, cada um a interpreta como melhor lhe aprouver. É bem verdade que todas as traduções de sua obra para a sétima arte foram longe demais nas licenças poéticas, contudo Zack Snyder tem se mostrado uma ovelha desgarrada daquele rebanho de infiéis e merece pelo menos o benefício da dúvida até 06 de março de 2009.
* Corrijam-me se entendi errado, mas quer dizer que a concepção de Laurie foi providenciada não na ocasião do suposto estupro de Sally, e sim num segundo e (dessa vez) espontâneo encontro com o Ed? É isso?
** O paralelo mais interessante que se fez sobre esses dois definitivamente foi o registrado em Justice League Unlimited, no episódio ‘Fearful Symmetry’. Marcado pelo debute de Vic na série, o título do mesmo além de ser idêntico ao do quinto tomo de Watchmen, ‘Temível Simetria’, dá início a uma série de investigações que resultaram em implicações análogas às de Rorschach, inclusive rendendo ao próprio uma temporada encarcerado, só que no lugar de Sing Sing entra o Cadmus.
O aniversário é do THE PULSE, mas quem ganha presentes é você! – Versão 3.0
Para comemorar os seus 3 anos o SEMPRE EXTRAORDINÁRIO the pulse, esta fazendo um sorteio de Reino do Amanhã (encadernada) de Mark Waid & Alex Ross (Editora Abril) entre todos que comentaram (e comentarem)neste post até o final do mês.
Portanto, está dado o recado, é só esculachar este que vos fala nos comentários até o próximo dia 31 que estarás automaticamente participando.
Escrito por LUWIG
watchmen rulz a lot(num pensei em nada original p comentar
ResponderExcluirsempre fui fã do Questão,e sempre pensei como seria massa se realmente fizessem a mini com os personagens da charlton,alias sinto saudades deles,todos viraram piadas de si mesmos,questão morreu e foi subistituido pela rene montoya que era mais legal como policial,ted foi morto e subistituido por um imigrante mexicano que agora tem super poderes igual a um kyle rayner 2.0,sinceramente acho que os quadrinhos deviam tentar transformar suas edições em obras primas e não nessas brincadeiras de roteristas drogados que querem criar sempre seu proprio personagem
ResponderExcluirAhh, obrigado pelos spoilers, nunca tinha lido Watchmen (sério, apesar de ouvir falar quanto é boa é tudo).
ResponderExcluirMuito obrigado.